4 de dez. de 2010

Verdade (A Podridão em Laranja: Parte 1)

O começo deveria ter me revelado a verdade, mas cego dos olhos deixei me levar pelo toque de sua pele branca. Nunca havia tocado pele branca assim, deixei-me levar, sabendo que o que começa de forma errada, termina de forma dolorida. Jurei me esforçar, prometi mundos e fundos e me cobrei, cobrei minha fidelidade, cobrei meu amor, cobrei-me até por coisas que eu nunca deveria ter me cobrado. Lutar por um amor é como pedir a morte aos poucos. Sempre houve o que amou mais, se dedicou mais, sempre houve o que levou por levar, para que a solidão não se alastrasse em seus dias, para o prazer não fazer falta.
Eu estive ali, de braços abertos e futuro no fundo dos olhos, esperando o tempo fazer seu serviço e esperando meu tempo de ser feliz. Eu estava ali para afastar o escuro e mostrar a janela aberta. Ofereci-lhe o samba em pratos de amor. Ofereci-lhe o amor em pratos fundos, seu amor me foi servido em sobras, sua dedicação praticamente morta. Eu estava ali tentando acabar com minha carência e esperando destruir a sua, mas seu amor preferiu dedicar-se a braços sujos e abraços de uma noite, beijos sem amor e palavras mentirosas. Ainda hoje você ri da minha cara, enquanto eu choro por trás dessa máscara de força, ainda hoje dizem haver esperanças, ainda hoje meu peito grita ódio e meus olhos largam dor.
Ainda hoje você mentiu me amar, ainda hoje você estava na cama de outra pessoa.

21 de nov. de 2010

tirei Meu Nome do Mundo


Servo
Alexandre Ferreira

Tirei meu nome do mundo
Joguei-o num precipicio profundo.
Não quero que leiam minha biografia,
Que relembrem uma fotografia.

Quero o abismo materno,
De abraço eterno
E escuridão total.
Quero o mal
E de tudo o que nele reside
Quero o Final.

Agora que se foi,
Meu nome já não tenho.
Sou eu e não menos,
O Final e não menos.

Suspiro Final


Ficar sem escrever por muito tempo acumula questões sem resposta nas costas daquele que escreve. Tentei tantos textos e por fim desisti, abandonei-os no lixo e tranquei ali obras que poderiam ter mais de uma vida. Mas nada do meu mundo literário está destinado a viver, dessa minha época de olhos fechados para escritores presentes guarda-se apenas aqueles livros que se transformaram em filmes. O mundo do cinema ainda hoje valoriza suas obras, a literatura parou no inicio do século passado e não tem vontade de olhar para o atual e esquecer o velho. O antigo é eterno na literatura e o novo já perdeu-se no tempo.
As vezes me pergunto meu motivo para escrever, tento achar uma resposta verdadeira que não inclua apenas eu, mas eu e o futuro do mundo. Mas a verdade que me pinta no papel é uma individual e egoista, escrevo pra mim e não para o mundo. O mundo teve Fernando Pessoa, Carlos Drummond, Luís de Camões, Soror Juana Inés de la Cruz, o mundo não precisa da minha escrita, mas eu preciso desse meu desabafo. Com tinta dei vida a tantos textos e com riscos matei tantas escritas. Minha literatura mata minha literatura. O mundo é assim hoje e no futuro continuarão apenas olhando pra trás.

16 de out. de 2010

Doce Lar Subterrâneo


A rua oferece tudo aquilo que as pessoas procuram, a liberdade. Claro, essa não é a única coisa oferecida por ela, mas é a principal. Quando decidi sair de casa tinha 16 anos, as brigas constantes com meu pai e o alcoolismo de minha mãe me levaram a tomar essa decisão. De começo foi extremamente dificil, me faltava a cama com cobertores quentes, me faltaram também aquelas quatro paredes que ouviam meus desabafos. Na rua o único amigo que existe é a calçada que aguenta seu peso durante o tempo que você tenta sonhar. Deixei para trás uma namorada, pois quando julgava que ela me entenderia, ela me julgou apenas um insensato, acho que hoje eu entendo plenamente que talvez tenha sido insensatez de minha parte deixar as surras constantes e o fedor terrivel de alcool, insensato trocar isso pela rua. Talvez em minha casa eles tenham evoluido, mas aqui na rua, não há uma escada que te faça subir, há apenas buracos, aqueles que certamente você vai cair.
O primeiro buraco chama-se Esquecimento: Assim que sai de casa, tive a esperança de que meus pais me caçariam de uma forma tão alucinada que isso chamaria a atenção da midia, eu seria achado rapidamente, desabafaria toda a dor que eles me causaram, eles me entenderiam e a vida de volta pra casa seria perfeita. Não sei se me procuraram, acredito que sim, mas desistiram de mim e o esquecimento foi o primeiro buraco no qual cai, ele me causou dor, seguido de lágrimas, raiva, decepção. Então me apareceu o segundo buraco e finalmente eu entendi o motivo de chamarem ele de esperança no começo. O primeiro abraço das drogas é doce como o primeiro beijo da mulher amada.
O segundo buraco chama-se Esperança: Ele é mais profundo que o primeiro, mas em seu inicio parece haver uma luz. É nele que se esquece quem nos esqueceu, sorria sem precisar fazer força, guardei o choro e apaguei os sonhos que me cortavam as costas. Este lugar é quente como a nossa casa, tem um abraço mais apertado que o de minha mãe e me dá mais alegrias do que todas as que eu já tive nos outros anos de minha vida. Este é um buraco do qual é praticamente impossivel sair, seus niveis são cada vez mais aconchegantes e o que ele causa depende do quão fundo nele você está. Assim começa, você percebe que por esse segundo lugar vale a pena lutar e morrer, então você percebe outro buraco, e este outro buraco equivale a sentença de prisão perpétua nessas vielas.
O terceiro buraco chama-se Contentamento: Este buraco está intimamente ligado ao segundo, é o segundo quem lhe abre a porta para entrar nesse. E aqui você começa a se sentir melhor que em sua antiga casa, a maior parte daqueles que você conheceu nas ruas está aqui e não pretende deixar de estar. Aqui formam-se as amizades e daqui nascem os novos moradores desse mundo. Sempre que desejamos chegar a este terceiro lugar, precisamos antes passar pelo segundo e é assim que começamos a agradecer por estas ruas, por estes estranhos, por estes restos e por estes vicios. A vida em rua torna-se vida finalmente e já não lamentos ao céus por estarmos nela. Aqui conhecemos e lutamos para continuar onde estamos. A policia, os assistentes sociais, nenhum deles têm o direito de nos tirar do que chamamos lar, aqui construimos nossa história e temos o direito de continuar vivendo nas páginas de nossos livros. Então chega-se em um buraco irreal, acreditamos estar em outro, mas nem deixamos de sair do anterior...
O quarto buraco chama-se Loucura: Aqui, nossos amigos que já morreram retornam para ficar sempre ao nosso lado. Tudo a minha volta me irrita, sinto que estão invandindo o que é meu por direito. EU SUPEREI AS DIFICULDADES IMPOSTAS POR ESSAS PEDRAS! EU DEI MEU SANGUE POR COMIDA! EU FUI SURRADO SEM MOTIVO! EU FUI EXPULSO PARA A CHUVA! Vocês nunca entenderão o que é a loucura, pois ela nasce da sanidade e seres automáticos como vocês não sabem o que é ser são. Assim vai-se chegando o último, aquele que é acompanhado de uma passagem para virar um corpo a ser estudado em faculdades e colégios.
O quinto buraco chama-se Adeus.
Se me perguntarem sobre arrependimento, acho que apenas irei sorrir.

26 de set. de 2010

Diário Sem Nome Encontrado no Fim do Mundo (Parte 3)

Ato II

Sentei-me ao chão, era noite e havia me batido uma terrivel saudade de algo que eu nunca mais vou encontrar, foi inevitavel encher meus olhos de água. Chorei por um tempo, peguei uma folha e escrevi uma única palavra, era tão forte e me fazia tão fraco. Ainda restavam 3 balas, uma delas foi aquela tirou a minha vida.

Possíveis Começos para o que Aconteceu

  • Alguns dizem que é o reflexo dos pecados que caiu sobre o mundo.
  • Alguns acreditam que foi a Guerra Geral que finalmente destruiu tudo.
  • Alguns culpam uma doença extremamente contagiosa, que acabou com tudo antes de conseguirem acabar com ela.
  • Outros culpam outréns como sempre é feito pelo mundo.
  • Outros não acreditam em nenhuma dessas alternativas.

Infelizmente nunca haverá concordância sobre como tudo isso teve seu inicio, todos têm uma história pra contar e um motivo para o que ocorreu e quase nunca esses motivos são iguais. Aliás, isso ocorreu há tempo o suficiente para uma explicação não interessar a mais ninguém, só faço esse apontamento de motivos, para deixar como relato histórico caso essa situação consiga ser revertida. Outro ponto a deixar marcado é que os fatos históricos já não são tão importantes, já não há escola para nos lembrar as datas comemorativas, esquecemos os ícones revolucionários e os dias de paz. Os dias agora são de guerra, uma guerra individual, que para nós, parece ser eterna, hoje só nos importa a comida, o abrigo e a sobrevivência.
Sinto muito por não saber explicar o começo, acho até que as pessoas não procuram mais uma explicação (religiosa ou científica), afinal, temos coisas bem mais importantes para nos preocupar.

20 de set. de 2010

Cadeira de Rodas


Minha vida continua como que em conta-gotas e nada do que eu faço traz de volta aquela vontade de andar pelas ruas e sorrir para estranhos sóis que continuam se pondo. Os dias passam e percebo apenas quando vários passaram e você mal para ao meu lado, sempre com uma desculpa inventada na hora e não revisada, sempre com um eu te amo que não busca olhos e um abraço que se dá de costas. Meu tédio é sentir que não há remédio para o que o mundo fez de mim, e que você se pensa tão esperta julgando que eu não percebi seus enganos.
Já não sou eu quem lembra você das coisas que ficaram por fazer, é você quem lembra de algo que ficou por comprar, de algum passeio sozinho que não conseguiu completar. E das minhas tardes solitárias escorregam pelo chão panos molhados de dúvidas, que você faz questão de tornar quentes. Aonde levam tuas ruas? De que cor brilham as flores que você vê? Seu destino achou caminho longe do meu? Já pensei em levantar e te seguir, unir as forças poucas e encontrar a verdade com os olhos, fotografar na alma o que o peito já espera. O amor é a crueldade com uma bela maquilagem.
Mais um dia fora, mais uma noite na cama, teus encantos vão ficando aos poucos na porta da frente, cada você que entra é mais feio que o passado. E aquele belo e sorridente passado tornou-se presente com lágrimas e tristezas no corpo. Meu corpo já cansado de estar sozinho busca forças onde não pode encontrar, busca movimentos que não saem do lugar e você nunca está, pra ver a evolução que eu posso alcançar, pra sorrir o sorriso que eu posso te dar, você nunca está. E da minha solidão junto histórias que não posso confirmar, decoro suas contradições que não posso apontar, sinto seu lábio cada vez mais seco e seu desejo cada vez mais distante do meu corpo.
Sigo assim, a vida em conta-gotas por culpa de pernas que desaprenderam a andar.

18 de set. de 2010

mais Lembranças Do(A) que Realidade


Musas
Alexandre Ferreira & Kuosan

Nada de você restou em mim,
Até o batom de seus beijos já se foi.
Sumiu o cheiro daquele seu perfume
E o espelho já desaprendeu seu rosto.

Esse quarto não conhece mais seu nome,
Caiu-lhe a sua metade da tinta.
Envelheceram aqueles versos de amor
E hoje já não passam de poesia de amigo.

E mesmo que eu sinta uma pequena saudade
Sozinho sigo , não quero mais nada,
Tudo o que vem dele, um dia se vai...
Pelo menos sei que tive uma amada
E só assim as musas são perfeitas,
Mais lembranças do que realidade.